People Analytics um caminho para Data-Driven Organization
Para uma mudança de cultura é preciso ter paciência e saber onde se quer chegar
No artigo anterior Além da Intuição: Psicologia Baseada em Evidências e People Analytics na Gestão Organizacional, refleti sobre os possíveis caminhos para a integração entre Psicologia Organizacional e Análise de Dados por meio das metodologias de People Analytics e Psicologia Baseada em Evidências. Essa abordagem reflete a maneira pela qual me oriento como profissional, e recomendo que retornem à leitura caso ainda não a tenham feito.
Hoje, para iniciarmos nosso 2025, gostaria de explorar um pouco mais sobre People Analytics, uma metodologia que considero poderosa e essencial para orientar a tomada de decisões empresariais com base em dados, permitindo que a organização se torne uma verdadeira "Data-Driven Organization".
Podemos definir uma Data-Driven Organization, de forma resumida, como uma empresa que toma decisões embasadas em dados. Isso significa que todo o processo de decisão e as estratégias para o futuro são fundamentados em informações concretas, não em suposições. Nesse contexto, os dados tornam-se ativos essenciais, e é por isso que há um alto investimento em tecnologia para sua coleta, armazenamento e análise.
Mas para se tornar uma Data-Driven Organization é preciso cultivar uma cultura orientada por dados.
Um passo de cada vez
Antes de mais nada, é importante compreender que se tornar uma empresa orientada por dados é um processo de longo prazo. Portanto, exige paciência e esforço contínuo. É necessário avançar um passo de cada vez, certo?
O primeiro passo é criar uma cultura orientada por dados, o que representa um dos maiores desafios, especialmente se a empresa já possui uma cultura consolidada. A primeira fase é o treinamento, o treinamento é essencial tanto para líderes quanto para colaboradores, com enfoques distintos. Os líderes têm o papel de exemplo para os demais membros da organização, mostrando na prática o valor dos dados. Já o treinamento para os colaboradores deve ser estruturado e focado em aspectos práticos, sem ser excessivamente amplo, para evitar que o conhecimento adquirido seja esquecido. Ou seja, o treinamento inicial deve ser pensado de forma aplicável, visando preparar o terreno para o uso diário dos dados no processo de tomada de decisão.
A próxima fase consiste na integração dos dados no trabalho diário. Nesse ponto, os colaboradores devem ser incentivados a experimentar o uso dos dados e compartilhar insights. Aqui fica evidente a relevância dos dois passos anteriores: ao observar líderes utilizando os dados de maneira consistente e ter acesso a treinamentos sólidos e aplicáveis, os colaboradores se sentirão muito mais encorajados. Isso é importante pois eles terão um papel crucial no estabelecimento e no fortalecimento dessa nova cultura orientada por dados.
Desafios e Possibilidades
Como bem podemos observar, mudar uma cultura é um processo lento e exige cuidado, uma vez que ela é responsável pela forma como a empresa se comunica, toma decisões, define quem será contratado e estabelece um conjunto de padrões comportamentais a serem promovidos. Portanto, uma condução inadequada desse processo pode resultar em fracasso, especialmente se os líderes não estiverem comprometidos com essa transformação. Se os líderes não abraçam o novo caminho, a tendência é que os colaboradores também não o façam, já que uma mudança anunciada, mas não praticada, acaba se tornando apenas discurso ou, pior ainda, falsas promessas.
Além disso, o processo envolve diretamente todas as pessoas da organização, incluindo o setor de recursos humanos. Nesse contexto, é possível começar a implementar um projeto de People Analytics para a gestão de pessoas. Uma alternativa inicial seria, por exemplo, avaliar a situação atual da empresa. Com isso, é possível mapear:
Adoção e aceitação de dados pelos líderes e colaboradores.
Lacunas de habilidades e conhecimentos relacionados a dados.
Satisfação dos colaboradores e identificação de barreiras culturais.
Essa avaliação pode ser realizada por meio de pesquisas, análises de feedbacks e performance das equipes. A partir desses dados, será possível identificar o melhor formato de treinamento e personalizá-lo para líderes e colaboradores, ajustando-o também às necessidades específicas de cada equipe.
Outra etapa importante, após o treinamento, é utilizar o People Analytics para monitorar a adoção do uso de dados. Com esses indicadores em mãos, podemos implementar programas de reconhecimento para os times que demonstram maior engajamento no uso de dados. Esses grupos poderão auxiliar equipes com mais dificuldades, criando um ambiente colaborativo por meio do compartilhamento de experiências.
Por fim, as possibilidades são amplas. Após a fase de implementação e adaptação, a metodologia de People Analytics também poderá ajudar nos processos de recrutamento e seleção, identificando perfis mais alinhados a essa nova cultura. Além disso, permitirá a criação de mentorias, programas de desenvolvimento e, por último, mas não menos importante, a coleta de feedbacks contínuos.
Ou seja, essa abordagem possibilitará não apenas a implantação de uma cultura data-driven, mas também o fortalecimento de um ambiente colaborativo, ajustado às necessidades de cada indivíduo.
"Você pode ter dados sem informação, mas você não pode ter informação sem dados."
Daniel Keys Moran